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Espiritualidade Saudável



“A saúde de qualquer igreja ou ministério depende principalmente da saúde emocional e espiritual da liderança”


O que lhe vem à mente quando ouve a expressão “espiritualidade saudável”? Nas últimas décadas tem ocorrido um renovado interesse das pessoas pela chamada espiritualidade. Este é um assunto presente até na pauta das empresas e corporações, em geral.


Definir espiritualidade não é tarefa fácil, pois ao longo dos séculos e hoje ainda, versões de espiritualidade são propostas. Cada uma delas dizendo o que significa ser espiritual ou como se atinge a espiritualidade. Vou falar da espiritualidade cristã e, para fins didáticos utilizo, aqui o conceito de espiritualidade como sendo a área que trata das questões relativas ao contato do ser humano com Deus e o impacto desta relação na vida do cristão e nos seus relacionamentos interpessoais. Vou abordar a questão da espiritualidade cristã saudável, pois acredito que, infelizmente ainda vivemos, em grande medida, uma espiritualidade fragmentada que divide a nossa vida em duas partes: vida secular e vida espiritual.


A espiritualidade saudável rejeita esta abordagem porque esta distinção é artificial e não encontra respaldo no ensino global das Escrituras Sagradas. A proposta da espiritualidade saudável é integrar todas as áreas da nossa vida. Paulo descreve muito bem a espiritualidade em 1 Coríntios 10:31: “Portanto, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. Vejamos algumas áreas e como se manifesta a espiritualidade saudável.


A ESPIRITUALIDADE NA FAMÍLIA


A vida comum em família também tem tudo a ver com a espiritualidade. Todo cristão que deseja vivenciar a espiritualidade saudável precisa compreender que vida espiritual e vida no seio da família não podem ser dissociadas. Os que encaram vida em família e a vida eclesiástica como dois compartimentos isolados criam estereótipos de espiritualidade. Quantos esposos e esposas sentem-se desapontados ao verem que a pessoa com quem convivem são ativos membros de igreja, mas péssimos companheiros. Quantos filhos ou pais ao verem a diferença do comportamento destes na igreja e em casa.


O lar é um santuário doméstico. Lugar onde a sua espiritualidade deve ser praticada.


Paul Stevens afirma: "Deus resolveu colocar-nos no âmago da vida doméstica para que O encontrássemos, experimentássemos e amássemos”. O lar é um ambiente propício e também o mais desafiador para a prática de nossa espiritualidade. O lar deve ser de fato um santuário onde Deus é glorificado.


Gastar tempo com cada membro da família ouvindo-os, abrindo o coração, participando de seus sonhos é tão espiritual quanto trabalhar na igreja. É muito interessante observarmos que segundo a Bíblia, um dos pré-requisitos para alguém assumir liderança na igreja é saber governar a própria casa (1 Tm 3:4). A família tem prioridade sobre a igreja. Ninguém pode negligenciar a família em nome da causa de Deus.


Se minha família é uma prioridade isto deve ficar bem claro através da forma como eu gasto meu tempo. Quem ama, investe. Tempo para os membros da nossa família deve fazer parte da nossa agenda semanal. Muitos de nós somos viciados em trabalho. Muitas vezes somos bem-sucedidos em nossa área de atuação, mas pagamos um alto preço: o fracasso no lar.


Para sua reflexão:

1. Comente a seguinte afirmação: "Nenhum sucesso compensa o fracasso no lar".

2. Você sente-se à vontade para compartilhar abertamente seus pensamentos e sentimentos com os membros da sua família?


A ESPIRITUALIDADE E OS RELACIONAMENTOS


Vivenciar a espiritualidade nas relações interpessoais é "a grande crise e o grande desafio da espiritualidade cristã neste final de século". Esta não é uma tarefa fácil. Quantas vezes nossas relações com as pessoas são cheias de conflitos e afetam negativamente nossa espiritualidade. Mas não dá para fugir. Quem quer vivenciar a espiritualidade saudável precisa encarar o fato de que a espiritualidade diz respeito não apenas ao nosso relacionamento com Deus, mas também as pessoas.:


A apóstolo João em sua primeira carta (1 João 4:20) afirma: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, a quem viu, não pode amar a Deus, a quem não viu”. Quando Deus nos convida para sermos seus seguidores, Ele nos convida para fazermos parte de uma família com irmãos e irmãs com os quais teremos de conviver (1 João 1:3). Sabendo então que minha vida com meus irmãos e irmãs afetam a minha relação com Deus como tornar o convívio com os irmãos e irmãs oportunidades para nos achegarmos a Deus?


A AMIZADE


Neste mundo individualista e isolacionista precisamos redescobrir a experiência da amizade entre os irmãos. Você tem amigos? Pessoas com as quais conversa sobre seus problemas, suas frustrações, seus sonhos e seus temores? O tipo de pessoa diante de quem você pode ficar à vontade?


Jesus ressaltou o valor da amizade como disciplina espiritual ao referir-se a seus discípulos dizendo: "Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que o seu senhor faz; mas eu vos chamo amigos, pois vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai." (João 15:15). Além disto é notória a amizade de Jesus com Pedro, Tiago e João, sendo este conhecido como o "discípulo a quem Jesus amava"(João 21:20).


A maioria de nós tem muitos conhecidos, mas poucos amigos. Isto porque, assim como tudo o que vale a pena na vida, fazer e conservar grandes amizades não é tarefa fácil. Mas este investimento compensa.


A amizade é um importante recurso para nosso crescimento espiritual, pois diante de um amigo podemos tirar as nossas máscaras, abandonar nossas defesas e expor os segredos de nosso coração. Este tipo de amizade foi vivida por dois jovens: Jônatas e Davi. A história deles está registrada em 1 Samuel 18: 1 a 5; 19: 1 a 7 e 20: 1 a 10 Leia este texto e aliste os ingredientes de uma verdadeira amizade.


Agora que você leu a descrição de uma verdadeira amizade, responda com sinceridade: Você tem amigos deste tipo ou suas amizades são superficiais? Que atitudes você pode tomar para aprofundar algumas destas amizades?


INTERCESSÃO


Quem aceitou o desafio de vivenciar a espiritualidade saudável precisa vencer o hábito de criticar as pessoas, falar mal delas aos outros e adquirir a virtude de orar pelo irmão. Precisamos evoluir da crítica (falar mal dos outros) para a intercessão (falar com Deus em favor das pessoas).


Há pessoas que você tem criticado, julgado? Que tal começar a orar por elas? Quando praticamos a intercessão aprendemos a amar.


PERDÃO


Perdoar é a mais difícil disciplina cristã. No entanto, absolutamente essencial para a vivência da espiritualidade saudável. Essencial porque todo relacionamento entre pessoas é marcado por desentendimentos, mágoas e até amargura. Vida na Igreja é vida de relacionamentos e por isso não é exceção a esta regra.


O livro de Atos registra as disputas entre judeus e gentios. Lucas registra os conflitos entre Paulo e Barnabé e entre Paulo e Pedro. Além disto as cartas do Novo Testamento falam dos conflitos nas Igrejas (Corinto por exemplo).


Nossas experiências de conflito não podem ser acumuladas sem solução pois elas tornam-se responsáveis pela deterioração dos relacionamentos. Nossos conflitos precisam ser resolvidos e o perdão é a solução. A Bíblia diz: suportando e perdoando uns aos outros; se alguém tiver alguma queixa contra o outro, assim como o Senhor vos perdoou, também perdoai." (Cl 3:13).

Perdoar é difícil? Sem dúvida ! Mas este é o caminho estabelecido por Jesus para a nossa saúde espiritual.


Você está disposto a trilhar este caminho? Então pense agora nas pessoas com as quais você precisa reconciliar-se e ponha em prática estes ensinos bíblicos.


A ESPIRITUALIDADE E O TRABALHO


O ser humano gasta metade de sua vida no trabalho por isso quem deseja vivenciar a espiritualidade saudável logo se verá diante do desafio de glorificar a Deus através de sua profissão ou ministério... Não só o livro de Gênesis apresenta o trabalho como um dom de Deus. Nos Dez Mandamentos fica estabelecida a honra e dignidade do trabalho: "Seis dias trabalharás" (Êx 34:21).


Os autores do Novo Testamento reiteram os ensinos do Antigo Testamento sobre o trabalho. Paulo afirma que uma das principais marcas de nossa espiritualidade é o nosso desvelo em cuidar de nossa família. Se por negligência, isto não fazemos, temos negado a nossa fé: "Mas, se alguém não cuida dos seus, especialmente dos de sua família, tem negado a fé e é pior que um descrente" (1 Tm 5:8).


A espiritualidade no trabalho consiste em entendermos que todos fomos chamados para realizar um ministério dentro ou fora do círculo eclesiástico. Não há respaldo bíblico para afirmarmos que somente quem está diretamente envolvido com atividades ligadas a igreja ou organizações cristãs é que realiza ministério. Paulo aos Colossenses mostra que quer seja na igreja, no comércio, na fábrica ou escritório é para Jesus que estamos trabalhando. Ele diz "...não servindo só quando observados, como quem quer agradar os homens, mas de coração íntegro, temendo o Senhor." (Cl 3:22).


Encarar Cristo como o beneficiário do nosso trabalho é a motivação maior para a dedicação, a sinceridade no exercício da nossa vocação. A espiritualidade no trabalho requer que compreendamos que embora sirvamos a um chefe terreno, em última instância, Jesus é o nosso chefe, a ele estamos servindo. Trabalhemos certos de que ele está vendo tudo e na sua justiça recompensará a cada um segundo a sua obra.


A ESPIRITUALIDADE E O DESCANSO


Para a vivência da espiritualidade saudável precisamos redescobrir tanto o sentido bíblico do trabalho quanto do descanso. Ambos têm seu valor e lugar. Trabalhar sem respeitar as pausas para o descanso faz mal à nossa alma. Loren Wilkinson definiu muito bem o equilíbrio entre trabalho e descanso quando afirmou: “Fazer é importante, tanto para Deus quanto para o homem. Mais importante ainda, porém, é descansar naquilo que já foi feito- deleitar-se no mesmo”. (Stevens p.204)


Deus realizou a obra em seis dias e descansou no sétimo (Êx 20:11). Portanto há na Bíblia uma teologia do trabalho, mas também uma teologia do descanso. Espiritualidade e descanso sabático tem tudo a ver. Ao reservar um dia para descanso estamos reconhecendo a nossa dependência de Deus. Para mim, a prática do descanso semanal tem sido uma oportunidade não apenas para o descanso físico, mas para revigorar a minha alma e realinhar os meus objetivos com a missão de Deus para mim.


Gordon MacDonald afirma que Jesus “buscava o descanso que consistia em refazer as forças espirituais e receber orientação para a fase seguinte de sua missão”. Gosto da expressão dita por Jesus: “o sábado foi feito por causa do homem” (Mc 2:27). Neste sentido a observância do dia descanso tem me guardado tanto física quanto espiritualmente.


Aplicação pessoal:

  • Você tem um dia de descanso semanal quando se desliga do seu trabalho?

  • Você respeita os limites do seu corpo e mente ou está vivendo no limite ou acima dele?

  • Que mudanças você poderia fazer em sua rotina para ter uma vida mais saudável e feliz?


Conclusão


  1. A espiritualidade saudável é o plano de Deus para nós. Com certeza ainda estamos longe deste ideal de Deus que devemos buscar com afinco.

  2. A espiritualidade saudável precisa integrar e permear cada área da nossa vida, pois a espiritualidade fragmentada não contribui para a saúde emocional e prejudica o nosso relacionamento com Deus e com as pessoas com as quais convivemos.

  3. Nossas igrejas e organizações cristãs carecem de líderes espiritualmente saudáveis que, por meio da transformação de sua vida interior, contribuam para a transformação das pessoas ao seu redor.


Bibliografia


BOMILCAR, Nelson (org). O Melhor da Espiritualidade Brasileira. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

MACDONALD, Gordon. Ponha Ordem no Seu Mundo Interior. Belo Horizonte: Betânia, 1988.

SCAZZERO, Peter e BIRD, Warren. Igreja Emocionalmente Saudável. São Paulo: Editora Vida, 2014.

SOUZA, Ricardo Barbosa de. Espiritualidade na Igreja Moderna. Em: HORREL, J.Scott (ed). Ultrapassando Barreiras: Novas Opções Para a Igreja Brasileira na Virada do Século XXI. São Paulo: Vida Nova, 1994.

STEVENS, Paul. Disciplinas Para Um Coração Faminto. São Paulo: Abba Press, 1993.


Sugestão de Leitura


SCAZZERO. Espiritualidade Emocionalmente Saudável. São Paulo: Hagnos, 2013



Autor: Elias Neves





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