Afinal, o que é o tal tempo de qualidade com os filhos?

A pesquisa realizada pelo CIM constatou que o tempo de qualidade com os filhos é o fator mais estressante para os pais missionários. Afinal, o que é tempo de qualidade e como utilizá-lo em família? Leia abaixo:
Tempo de qualidade não é um produto e nem há uma receita exata para se chegar a ele.
Muito se fala sobre o tempo de qualidade que devemos passar com as crianças. E, do alto dos meus quatro filhos (mais uma enteada) tenho me perguntado, cada vez com mais intensidade, o que seria isso. Qual é a linha de corte que separa um simples "tempo com os filhos" do tal "tempo de qualidade com os filhos"?
Muita gente pensa que a qualidade está no que fazemos com eles. Então, se viajamos ou jogamos um jogo juntos é de qualidade, se sentamos do lado e ficamos em casa ou só olhando não é?
Tem gente que diz que pra ter um tempo de qualidade precisamos estar disponíveis. Isso significa deixar o celular distante? Pegou o dito cujo pra bater uma foto já perde estrelinha? Entrou no Instagram, então, vai tudo por água abaixo?
Claro que estar com os filhos e não sair do celular é péssimo e poderíamos fazer um texto inteiro sobre isso, mas acho que neste caso o buraco é mais em baixo e também mais indireto do que gostaríamos.
Ter um tempo de qualidade com as crianças está muito mais relacionado à nossa felicidade, à nossa plenitude para que consigamos aproveitar o tempo que temos com eles do que a quantidade de horas ou a disposição daquele exato instante.
Explico: uma pessoa que acabou de se separar ou de ser demitida e está deprimida, se arrastando, dificilmente vai conseguir um tempo qualidade para qualquer coisa na vida, inclusive ficar com os filhos. Esse é um exemplo extremo pra gente chegar num ponto mais mediano: tempo de qualidade é aquele que a gente desfruta sem pressão, sem ansiedade, sem culpa. É aquele que a gente aproveita justamente porque está bem pra isso.
Neste sentido, ter um tempo de qualidade com as crianças está diretamente ligado a estar contente com a nossa própria vida e estar tranquilo (ou resignado) com as nossas escolhas e possibilidades. E vejam, isso bate diretamente na satisfação que sentimos com o que conseguimos entregar pra eles. Sim, porque se a gente está sempre culpado, achando que estamos devendo algo e ficamos na pressão de fazer tudo "direito", é bem provável que não consigamos a paz que gera a tal qualidade que tanto buscamos.
É por isso que se na ansiedade de ter um tempo de qualidade com os pequenos a gente atropela nossas próprias vontades e desejos, dificilmente conseguiremos entregar o que planejamos. Sim, é complexo e vai bem naquela linha do "casa de ferreiro, espeto de pau". Porque não basta a teoria do que é o tal tempo de qualidade se na prática não estamos satisfeitos e contentes com aquilo.
Muita gente leva a criação dos filhos como uma apostila. Busca diversas informações, se aprofunda e escolhe uma linha torcendo pra dar tudo certo. E o que não faltam hoje são fórmulas e gurus de educação. Mas no fundo, não tem teoria ou manual que garanta o sucesso nesse troço maluco que é criar seres humanos. E se a gente esquecer que por trás daquelas crianças, daquela família, tem um (dois ou mais) adultos com seus sonhos, desejos e vontades é bem provável que o clima de frustração e insatisfação contamine o ambiente.
Tempo de qualidade não é um produto e nem há uma receita exata para se chegar a ele. Tempo de qualidade é o resultado de uma conjunção de fatores, onde sim, o celular atrapalha e o pé na areia pode ajudar, mas a pressão, a culpa, a falta de autocuidado, de alegria e de satisfação pessoal também têm papéis cruciais.
FONTE: Revista Crescer